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Pessoas sentadas em frente a um auditório. Um telão no fundo.

Programa promove segundo encontro, de uma série de quatro, sobre as competências-chave para uma Escola Transformadora

No último dia 8 de novembro aconteceu, na UNIBES Cultural, em São Paulo, a roda de conversa ‘Protagonismo na educação – por uma sociedade de sujeitos transformadores’. Organizada pelo Programa Escolas Transformadoras, a iniciativa é a segunda de uma série de quatro rodas que acontecerão até 2017.

A roda sobre protagonismo na educação foi mediada por Raquel Franzim e Antonio Lovato, coordenadores do Programa no país. Estiveram presentes lideranças das Escolas Transformadoras do Brasil, Venezuela e Argentina, estudantes, representantes de organizações da sociedade civil, jornalistas, pesquisadores, psicólogos, arquitetos, entre outros debatedores que, juntos, pensaram sobre o que é ser protagonista e como este protagonismo se destaca entre crianças e jovens.

Durante a conversa, os debatedores trouxeram à tona o momento político vivido pelo país e as ocupações dos estudantes secundaristas como uma notável revelação de protagonismo juvenil. A arquiteta e pesquisadora Beatriz Goulart ressaltou que o protagonismo também tem a ver com o espaço físico das escolas: “Precisamos de lugares para encontros e debates – precisamos de outro tempo e espaço. E esse é o papel da escola, pensar sobre qual lugar vai acolher o que deseja-se fazer”.

Fátima Limaverde, fundadora e coordenadora da Escola Vila (CE), ressaltou que ‘o fazer’ é fundamental para que o protagonismo se revele: “Na Vila abrimos espaço para que as crianças e os jovens se expressem, critiquem, falem, debatam e façam escolhas. Trabalhamos para que eles possam exercer sua cidadania de forma plena, sempre num papel atuante. Acho que esse é o caminho”, comentou, lembrando que durante as eleições municipais, a escola promoveu um debate com os candidatos à prefeitura de Fortaleza e que os alunos foram os responsáveis por organizar, mediar as mesas e construir as perguntas.

Leia o livro composto de dez artigos aqui.

Assista ao vídeo abaixo e confira como foi este encontro inspirador!

 

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Mão fazendo um risco vermelho de tinta, em cima de um papel laranja.

Manifesto pede que perspectiva do Desenvolvimento Integral permeie todos os pontos da Base Curricular Nacional, que está em processo de construção.

O Instituto Alana, ao lado de outras organizações da sociedade civil, assinou um manifesto que pede a inclusão do Desenvolvimento Integral de forma mais explícita e transversal na Base Curricular Nacional. O texto, produzido pelo Movimento pela Base Nacional Comum, tem o propósito de mobilizar e sensibilizar o Ministério da Educação sobre o tema, além de buscar um engajamento de outras organizações.

O documento preliminar da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está aberto à consulta pública até dia 15 de Março e apresentará o conjunto de conhecimentos e habilidades essenciais que cada estudante brasileiro tem o direito de aprender durante a Educação Básica para se desenvolver como pessoa.

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A legislação brasileira vigente ressalta que a finalidade da educação é promover o pleno desenvolvimento do aluno (artigo 205 da Constituição Federal, artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 2 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e que, portanto, deve contribuir em todas as dimensões, física, intelectual, social, emocional e simbólica, ao longo da trajetória escolar.

O Movimento pela Base Nacional Comum quer garantir que a BNCC contemple aprendizagens associadas a todas estas dimensões e que a educação brasileira seja orientada para o Desenvolvimento Integral. O manifesto defende ainda que esta perspectiva inspire o propósito, a concepção formativa, a abordagem das áreas do conhecimento, das etapas de ensino e dos objetivos de aprendizagem presente na BNCC.

Para saber mais acesse: http://movimentopelabase.org.br/

Foto: Free Images

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Foto mostra sombra de crianças sendo refletidas em guarda-chuva laranja

Na abordagem da educação integral, a criança é vista em suas múltiplas dimensões; para serem transformadoras, escolas precisam de novas linguagens, competências e habilidades

Marcado por problemas sociais, ambientais, econômicos e políticos, o mundo atual exige competências e habilidades diversas, que vão muito além do modelo tradicional de ensino, da matemática, do português e do vestibular. Diante disso, a abordagem da educação integral pode ser uma chave para uma mudança de paradigma nas escolas. 

Com as alterações provocadas pelos processos de globalização e de revolução tecnológica, principalmente após meados do século XX, a escola teve seu papel questionado. O modelo tradicional de ensino, com foco na disciplina e no conteúdo acadêmico, onde o professor é visto como único detentor do saber e os alunos como “folhas em branco”, não encontra mais espaço no cenário atual. 

Neste contexto, cabe à escola repensar seu papel e construir novos significados à sua atuação. É necessário revisitar as concepções de educação e compreende-la sob uma perspectiva mais ampla, considerando sua aproximação com outros campos, instituições e atores.

Para mergulhar fundo nestas discussões, conversamos com Ana Claudia Arruda Leite,  pedagoga e coordenadora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana.

Para Ana Claudia, a escola deve se fortalecer como um espaço de convivência, de leitura crítica e criativa do mundo, capaz de possibilitar tanto a apropriação do patrimônio simbólico e material da humanidade, como a construção de vínculos e de significados para a vida, no âmbito individual e coletivo.

Confira o bate-papo com Ana Claudia Arruda Leite. 

Site – Hoje, muitos defendem a escola em tempo integral. Ela seria um modelo interessante e que atenderia as novas demandas do século XXI?

Ana Claudia Leite – Antes de tudo, é fundamental distinguir educação integral de escola em tempo integral. A educação integral é uma concepção de educação e não um modelo. Ela foca no desenvolvimento pleno do ser humano, ou seja, nas suas múltiplas dimensões (intelectual, corporal, ético, estético e político). Por isso ‘integral’, do latim integrālis (inteiro, total). Além disso, nessa abordagem, a escola é vista como um dos espaços educativos e não o único, e é pensada a partir do diálogo com seu território, onde os diferentes sujeitos, espaços e tempos são reconhecidos no processo de ensino-aprendizagem.

A escola em tempo integral tem relação com esta discussão, no que tange à expansão do tempo e até de possibilidades formativas, mas dependendo de como ela for proposta pode não significar uma educação integral no sentido pleno, visto que a institucionalização traz consequências complexas que podem impactar negativamente a educação e a saúde, psíquica e física, dos bebês, crianças, adolescentes, jovens e professores. Vale lembrar que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a profissão docente é hoje considerada como uma das mais estressantes, além de ser a segunda do mundo a portar doenças de caráter ocupacional.

Precisamos olhar para essas condições atuais da escola e buscar caminhos efetivos e viáveis de transformar a escola num real ambiente educativo, saudável, inclusivo e inspirador para todos. Isto passa por repensar muitas dimensões e não apenas a extensão do tempo que a criança ficará dentro da escola. É preciso olhar o currículo, a arquitetura, a formação e condições de trabalho dos professores, a valorização da criança como sujeito, a inclusão, bem como a integração entre educação, arte, cultura, esporte, saúde.

Site – Sob o olhar da educação integral, educa-se então em diversos lugares, diversos tempos e ao longo de toda a vida. A escola acolhe essa visão de educação?

AC – As escolas realizam práticas diversas de acordo com suas equipes e o modo como trabalham, mas a educação integral parte de um pressuposto que está na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de que a educação no Brasil é um direito de todos e uma responsabilidade da família, do Estado e da sociedade no geral; não restrita, portanto, aos muros da escola. Assim, a educação que se faz dentro da escola deve olhar para o desenvolvimento integral da criança, considerando aspectos simbólicos e materiais, que juntos compõe o ambiente educativo e a subjetividade de cada ser humano.

O diálogo com a diversidade está, inevitavelmente, implícito à prática educativa.

Educação integral valoriza a diversidade

Do ponto de vista teórico e legislativo, já temos respaldo para pensar a educação nessa perspectiva, como também para pensar a escola na relação com seu entorno. O sujeito se faz como tal na sua relação com o outro, portanto, o diálogo com a diversidade está, inevitavelmente, implícito à prática educativa. A educação integral traz luz para isso e enxerga os diferentes contextos em que os alunos estão inseridos como potências para a aprendizagem. Iniciativas como o Centro de Referências de Educação Integral, do qual o Alana participa junto com outras organizações sociais, tem um papel fundamental nesta discussão.

Site – O que estamos fazendo com as crianças dentro das escolas?

AC – Vivemos um momento paradoxal na educação brasileira. Presenciamos uma melhoria na garantia de acesso à escola (hoje temos praticamente universalizado o acesso ao ensino fundamental e a educação infantil começa a entrar nesse processo). Contudo, o desafio da qualidade e da transformação ainda se faz presente. Algumas escolas já estão buscando alternativas a esse desafio e repensando seus projetos político-pedagógicos, a fim de colocar em pauta discussões importantes, como a reformulação do currículo e do sistema de avaliação, além de trazer à luz temas como inclusão e diversidade.

Presenciamos uma melhoria na garantia de acesso à escola, mas o desafio da qualidade ainda se faz presente. 

Neste movimento de repensar o papel da escola, estamos corealizando com a Ashoka o Escolas Transformadoras, um movimento global que busca conectar escolas que estão criando novos paradigmas na educação, rumo a uma aprendizagem verdadeiramente transformadora. Temos descoberto muitas escolas incríveis no Brasil e no mundo, que possibilitam a formação de sujeitos criativos, empáticos, críticos e engajados. Acreditamos que as experiências destas escolas precisam ser reconhecidas, sistematizadas e divulgadas, pois dão importantes pistas para avançarmos nesta discussão sobre qual escola queremos no século XXI.

Site – O que seria – dentro do contexto brasileiro – uma educação transformadora?

AC – Dentro do contexto brasileiro existe algo muito importante a ser feito: olhar para a própria história. Olhamos muito pra fora e nos esquecemos de identificar o que aconteceu e o que acontece de inovador em termos de educação no Brasil. Temos experiências incríveis por aqui. É preciso recuperar os autores e as experiências pedagógicas significativas e comunicar estas boas referências. O desafio é como sistematizar e contar esta história de uma forma consistente, inspiradora e de fácil acesso para que consigamos construir novas narrativas, mudando a mentalidade e expectativa do que seja uma boa escola. E isso não é um assunto exclusivo de pedagogos e profissionais da educação, ele é de todos na medida em que a educação é um direito e um dever da família, do Estado , da escola e da sociedade.

Mudança de mentalidade

A mudança de mentalidade é fundamental, porque, apesar de existirem exemplos inspiradores, de vanguarda, o que se tornou universal foi um modelo de educação enraizado ao conceito de escola do século XIX. Assim, a expectativa que a família, a mídia e sociedade têm é de uma escola “forte,” “séria”, que prepara para o vestibular. Ou seja, nada mais do que a escola tradicional. Hoje, espera-se que a escola no Brasil garanta o mínimo: ensino da matemática e alfabetização, como se isso fosse suficiente. É preciso mudar essa cultura e estabelecer uma expectativa de aprendizagem maior, que envolva outras linguagens expressivas, competências e habilidades.

Atravessar as barreiras simbólicas da escola seria uma grande transformação, mas também um enorme desafio.

Do ponto de vista legal, existe a possibilidade de a escola construir um projeto pedagógico autônomo e focado na educação integral. Em contrapartida, as pessoas que estão nas escolas e fora dela não sabem disso e esperam da escola a continuidade do modelo tradicional, mesmo que já seja um consenso de que se trata de um modelo falido, que não serve nem mais para a reprodução do sistema, que dirá para uma transformação social.

Site – Quais são os maiores desafios do campo da educação?

AC – Há muitos desafios no campo da educação, que abarcam desde questões relacionadas ao paradoxo quantidade/qualidade, até a forma de contratação de professores e arquitetura da escola. Precisamos reconhecer o avanço nas políticas públicas para universalizar o acesso à educação. Contudo, o desafio é fazer isso sem perder a qualidade e sem institucionalizar o processo educativo. A escola não é prédio, mas um ambiente de aprendizagem, que possibilita a convivência, a construção de vínculo, de significados e de sentidos. A escola deve ser um espaço autoral, e tudo o que é autoral exige um tempo maior de entrega e envolvimento. Não apenas para o aluno, mas também para o professor. 

Como construir um projeto político-pedagógico sem conhecer o entorno, as diferentes culturas que estão dentro da escola ou mesmo os próprios colegas de profissão?

Construindo uma comunidade de aprendizagem

Hoje, é comum o professor assumir mais de uma jornada de trabalho, o que interfere na construção desse espaço autoral, individual e grupal. Ao dar aulas em diferentes escolas o professor não se sente pertencente a nenhuma, e isso é um desafio para a qualidade da educação, pois impacta na possibilidade real de se construir projetos pedagógicos coletivos. A qualidade também está ligada a possibilidade de se ter uma equipe forte, que elabore um trabalho consistente, coeso e continuo, capaz de estabelecer vínculos com as crianças, suas famílias e com a comunidade.

Agora, imagine uma escola que atende até 3 mil crianças, com mais de 200 professores e muitos sem dedicação exclusiva, como ser um espaço autoral e de convivência, sem uma equipe forte? Como ser uma comunidade de aprendizagem se não temos tempo e espaço adequado para nos reconhecermos e nos conhecermos como coletivo?

Acredito que precisamos sim transpor os muros da escola no que tange à espaço e tempo, concretos e simbólicos, mas tão importante quanto isso é fortalecer a escola como uma comunidade de aprendizagem, construída por sujeitos, pois ela é, antes de tudo, espaço de relação humana. Sem afeto, vinculo e socialização, a educação se desumaniza.

Escola é espaço de relação humana. Sem afeto, vinculo e socialização, a educação se desumaniza.

Foto: Via Flickr SanShoot

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